Acabo de voltar da cracolândia da Dino Bueno, no centro de São Paulo. Acompanhada de Manoel Souza, líder da região, e que luta para conseguir o tratamento destes dependentes, passei por gente jogada na rua e nas calçadas, por pessoas de rostos enegrecidos pela fumaça do crack ,com roupas rasgadas e sujas, garotas de short e camisetas curtas deitadas na rua, gente que um dia teve pai, mãe, esposa, filhos e hoje lá, na Dino Bueno, com a proteção da Prefeitura, expõe solitariamente a miséria que o crack, que as drogas trouxeram para sua vida. Pessoas abandonadas e dominadas pelas drogas. A facilidade com quem conseguem o crack e outras drogas também marca a Dino Bueno, a rua mais policiada do país por ordem da Prefeitura de São Paulo.
Olhando para cada rosto , fiquei imaginando o que o Governador, o Prefeito e seus secretários pensam sobre o ser humano. Se um ente querido dessas autoridades estivesse ali , jogado no chão como um miserável, o que sentiriam? E se fosse o filho? A filha? É devastador A quem interesse esta alienação, esta escravidão, esta liberdade dos traficantes? A sociedade, só perde.
Manter cracolândia beneficia quem? Por que nossos impostos podem ser empregados livremente pela Prefeitura para manter a cracolândia da Dino Bueno?
Parece que todo mundo fecha os olhos. Onde estão os vereadores? Onde estão os deputados? Onde estão as autoridades de saúde pública? Onde estão as vagas que o governo tanto anuncia quando cobrado pela imprensa?
Neste inferno onde a droga impera, vi também meninos de 12,13 anos em bicicletas e com celulares pela Dino Bueno e Barão de Piracicaba, rua paralela e onde dependentes já tomam calçadas . Fiquei me perguntando onde está o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Se um casal é flagrado usando drogas, perde o pátrio poder e o filho é levado para um abrigo. E ali, em plena rua das drogas, todo mundo vê os meninos de bicicleta e nas portas de bares e nenhuma autoridade toma atitude.
O que esperar deste governo que autoriza e policia esta região ao invés de levar estes dependentes para clínicas de tratamento e de fato colocar a polícia para prender traficantes, cumprindo a lei em vigor.
RECUPERAÇÃO palavra distante hoje de dependentes de drogas que necessitam da rede pública municipal de São Paulo. Por quê? Além do inferno da Dino Bueno, o Município cumpre outra determinação do governo Lula: a política de Redução de Danos, que permite durante o tratamento continuar o uso de drogas. Como esta política, cracolândias se espalham pelo país.
Volto para casa arrasada. Mas na rua onde moro vou olhando para cada criança que encontro indo para a escola com os pais, e me sinto responsável por aqueles menininhos e menininhas de mãos dadas com a mãe, com a avó, com o pai. Me emociono . E, mais uma vez, digo a mim mesma: não desista.
Minhas palavras podem ter o peso de um grão de areia . Mas busco esperança ao lembrar de cada parceiro desta luta – meu filho, André, Regina Tortorelli, Miguel Tortorelli, Mário de Oliveira Filho, Sandra Crivello, Maria Diamantina Castanheira dos Santos, Ivanildo José, João Blota, todos os coordenadores do Amor Exigente no país, de Manoel, que não desiste de lutar pelos direitos a tratamento dos que estão na cracolândia da Dino Bueno, de Fábio Fortes, presidente do Conseg que não se cala frente a injustiças, de Luiz Augusto Salles, pessoas que não se intimidam frente ao descaso e poder dessas autoridades que desvalorizam o ser humano ao invés de investir nossos impostos em educação, saúde, segurança e tornar cada um de nós mais fortes para enfrentarmos o futuro.