Pais, permitam ser odiados pelos seus filhos

by Thiago Biancheti

Muitos pais hoje em dia querem ser amigo dos seus filhos. Costumo dizer que, como seres relacionais que somos, temos que observar a importância dos diferentes tipos de relação para o nosso desenvolvimento pessoal. Vejamos: a relação entre pais e filhos não carrega a mesma função das relações de amizade.

Quando falamos de relação parental estamos nos referindo a função através da qual se é transmitido os elementos básicos para a nossa estrutura e formação como sujeitos. Nesse sentido, enquanto a relação entre amigos pode ser considerada uma relação circular (entre iguais, constituída por afinidades), a relação “pais e filhos” é uma relação triangular, sendo os genitores a base do triângulo e que deve propiciar um desenvolvimento psíquico e emocional sadio e equilibrado para sua cria. Não podemos misturar as duas coisas sem acarretarmos sérias consequências para os filhos.

O papel do pai e da mãe na vida dos filhos constitui uma função simbólica inconfundível, insubstituível e imprescindível para o desenvolvimento humano. E, indubitavelmente, é importante que os pais garantam aos filhos a posição de terceiros na relação parental.

Por ser a base do desenvolvimento, a função parental deve ser garantida por ambos os genitores de maneira firme a fim de sustentar todos os atos de condução dos filhos através de discursos e atitudes comuns a ambos os pais. Mesmo na falta de um dos genitores, importa que o genitor presente se refira constantemente ao genitor ausente de maneira a sustentar o lugar do filho como terceiro na relação: “sua mãe e eu decidimos”, “seu pai e eu achamos”.

Quando os filhos sentem que o pai e a mãe falam a mesma linguagem e decidem juntos, sentem-se seguros, tranquilizam-se, aquietam-se em seus impulsos internos. A firmeza do pai e da mãe ampara a cria. Pais sem firmeza, frouxos, sem autoridade, que desejam apenas ser alvo do amor dos filhos, negligenciam sua importante função como apoio para constituição psíquica deles.

Pais que temem ser odiados caso assumam posturas firmes e reguladoras, colocam seus filhos na angústia e na incerteza de seus ímpetos agressivos e amorosos internos.

Eles se tornam hiperativos, inquietos, não sabem o que fazer com seus impulsos afetivos e emocionais, acabam se tornando agressivos, estúpidos, violentos, dão pontapés em tudo e em todos. Numa palavra, tornam-se sujeitos envoltos em enorme sofrimento, pois, desesperados, não sabem o que fazer com suas emoções, se transformando em fortes candidatos aos vícios e ao consumo excessivo de álcool e drogas.

A falta dos pais é um desastre para o desenvolvimento psíquico do indivíduo, sobretudo de pais fisicamente presentes! Não há como os filhos se organizarem psiquicamente numa relação parental desordenada, na qual os pais privilegiam a amizade e camaradagem junto aos filhos e abstêm-se de suas funções de educadores emocionais e normatizadores sociais. Por isso, muitas vezes, os filhos são sintoma dos problemas dos pais.


Por Vanessa Sola, Psicóloga Especialista em Dependência Química e Psicanálise. Artigo publicado originalmente na edição n° 258 da RevistAE, em Março/2021.

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