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Post: OS QUATRO PILARES DO TRATAMENTO BEM-SUCEDIDO E A FAMÍLIA

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Os caminhos que levam à recuperação são diversificados: alguns alcançam a abstinência estável e os ganhos dela advindos – retorno à vida profissional, credibilidade familiar e autoconfiança – a partir de longas internações ou de cuidados pautados por médicos ou psicólogos, enquanto outros a encontram a partir de um despertar espiritual, havendo, ainda, aqueles que se recuperam dentro de grupos de mútua-ajuda, como o Amor-Exigente, AA e NA. Na verdade, as experiências bem-sucedidas são sempre uma combinação desses três, em inúmeras proporções, o que torna o processo de recuperação uma experiência única.

Nos dias de hoje, independentemente do caminho escolhido, estudos indicam que há quatro componentes que não podem estar ausentes ao longo dessa jornada, sob pena de a mesma fracassar.

O primeiro deles é o monitoramento. Regras aumentam a força e a assertividade do usuário em dizer “não” para as situações de risco. Desse modo, necessitam de um contrato de tratamento, pautado por regras, com consequências caso não esteja conseguindo cumpri-las. Assim, ele passa a ter responsabilidade sobre suas recaídas. A família quase sempre é a ‘fiadora’ desse contrato e precisa estar em sintonia com a equipe de tratamento e com grupo de mútua-ajuda que a apoia, para que o paciente perceba que não há mais espaço para manobras – “me dá mais uma chance” – frente a quebras de contrato. Saber que há regras acima de todos é estruturante para ele.

O segundo componente são as atividades que preenchem o tempo antes dedicado ao consumo da droga. Isso pode ir desde a estruturação de ações focais, até a reconstrução de uma semana completa, para aqueles que perderam o contato com tudo e com todos. Atividades esportivas e religiosas, cursos, hobbies, etc. compõem esse tópico.

As pessoas e ambientes de não-uso, com os quais o usuário pode partilhar suas dificuldades e espelhar sua abstinência, podem fomentar vínculos e formar uma rede de monitoramento, dedicada à construção da reinserção social do usuário. Os grupos de mútua-ajuda se encaixam aqui.

Por fim, o manejo do estresse. Considerando que os ímpetos de raiva e as sobrecargas emocionais estão na base da recaída, é preciso saber lidar com isso, inicialmente evitando-os, em seguida aprendendo a se aliar a parceiros – por exemplo a família – na resolução de conflitos e, por fim, enfrentando-os assertivamente. Um processo-da-vida-toda, cuja resultante é chamada amadurecimento.

Conforme foi dito aqui, os caminhos até a recuperação são únicos, cheios de curvas e acidentes geográficos, o que tornam as recaídas prováveis.

Nesse contexto de tensão permanente, componentes que aumentam as chances de um desfecho positivo são sempre bem-vindos. Como foi possível ver aqui também, a família pode – e deve – se envolver em todos eles. Mas não se esqueça: os quatro precisam estar sempre juntos.

Uma trajetória bem sucedida a todos!


Por Dr. Marcelo Ribeiro, Médico Psiquiatra e Diretor Técnico do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas – CRATOD – edição n° 232 da REVISTAE – Janeiro/2019.

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