Por Carlos Alberto Di Franco
A política transformou-se num espetáculo. A discussão das ideias sucumbiu às interdições da ditadura politicamente correta. Temas relevantes para o futuro da sociedade primam pela ausência. Não se apoiou o projeto para a segurança pública do ministro Sergio Moro, não obstante a surpreendente desenvoltura das facções criminosas. Assistimos, todos, ao jogo do marketing político. Enquanto isso, caro leitor, a violência avança impune e o seu principal estopim, o mercado das drogas, continua fora da agenda pública.
No mercado da cocaína o Brasil exerce triste liderança. O País é hoje o maior espaço consumidor da droga na América do Sul e, provavelmente, o segundo maior nas Américas. Cresce em progressão geométrica a demanda doméstica. Ademais, somos hoje um importante corredor de distribuição mundial. As consequências dessa assustadora escalada podem ser comprovadas nos boletins de ocorrência de qualquer delegacia de polícia. De fato, o tráfico e o consumo de drogas estão na raiz dos roubos, das rebeliões nos presídios e da imensa maioria dos homicídios.
Multiplicam-se, paradoxalmente, declarações otimistas a respeito das estratégias de redução de danos. O essencial, imaginam os defensores da nova política, não é a interrupção imediata do uso de drogas pelo dependente, mas que ele tenha uma melhora em suas condições gerais. A opção pela redução de danos pode ser justificada em determinadas situações, mas não deve ser guindada à condição de política pública. Afinal, todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. Embora alguns usuários possam imaginar que sejam capazes de controlar o consumo, cedo ou tarde, descobrem que, de fato, já não são senhores de si próprios. Não existe consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante que, frequentemente, engrossa as fileiras dos dependentes crônicos. Afinal, a compulsão é a marca do usuário de drogas. Um cigarro de maconha pode ser o começo de um itinerário rumo ao desespero.
Mas os “vanguardistas” não desistem. Defendem, irresponsavelmente, a criação de locais especiais de “uso seguro” das drogas para dependentes graves. Nesses espaços não haveria repressão ao consumo. Os viciados seriam estimulados a substituir drogas pesadas por outras supostamente leves, como a maconha. A pretensa inocuidade da maconha termina, frequentemente, no sequestro da esperança e do futuro.
Transcrevo o depoimento de um adicto recuperado. Ele fala com a força e a sinceridade de quem esteve no fundo do poço: “Sou filho único. Talvez porque meus pais não puderam ter outros filhos me cercavam de mimos e realizavam todas as minhas vontades. Aos 12 anos comecei a fumar maconha, aos 17 comecei a cheirar cocaína. E perdi o controle. Fiz um tratamento psiquiátrico, fiquei nove meses tomando medicamentos e voltei a fumar maconha. Nessa época já cursava Medicina e convenci meus pais de que a maconha fazia menos mal que o cigarro comum. Meus argumentos estavam alicerçados em literatura e publicações científicas. Eles mal sabiam que estavam sendo enganados, pois, além de cheirar, também passei a injetar cocaína e dolantina, que é um opiáceo. Sofri uma overdose e só não morri porque estava dentro de um hospital, que é o meu local de trabalho”. “Após essa fatalidade”, continua, “decidi me internar numa comunidade terapêutica e hoje, graças a Deus, estou sóbrio. O uso moderado de maconha sempre acabava em drogas injetáveis”. (A. S. N., médico, ex-interno da Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, SP).
Recomendo um excelente filme sobre drogas: Ben is back (Ben está de volta). Com Julia Roberts e Lucas Hedges mostra o impacto das drogas no âmbito de uma família. Interpretação carregada de realismo e sem fugas politicamente corretas. Vale a pena!
Observa-se, na contramão da realidade, um crescente movimento a favor da descriminalização das drogas, sobretudo da maconha. Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, não se contentou com a promoção da maconha. Agora, armado de uma irresponsabilidade cortante, defende a liberação da cocaína. Mas a vida real, dura e dramática, não se curvou à ideologia. O descontrole da violência foi a causa imediata da derrota eleitoral do partido de Mujica.
Bandeira frequentemente agitada em certos setores do entretenimento e em alguns redutos de profissionais da saúde pública, a descriminalização não ajudará nada. Ao contrário. Alerta o respeitado psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “Artigos recentes mostram de uma forma inquestionável que o consumo de maconha aumenta em muito o risco de os jovens desenvolverem doenças mentais. Do meu ponto de vista, essa geração que consome maiores quantidades de maconha do que a geração anterior pagará um alto preço em termo de aumento de quadros psiquiátricos”.
A verdade precisa ser dita. Não se pode sucumbir à síndrome da avestruz quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O hediondo mercado das drogas está dizimando a juventude. Movimenta muito dinheiro. Seu poder corruptor anula, na prática, estratégias meramente repressivas. A prevenção e a recuperação, as únicas armas eficazes em médio e longo prazos, reclamam apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias que lutam pela reabilitação de dependentes.
Com graves dificuldades financeiras e pouquíssimo suporte dos governos, embora não faltem falsas promessas de políticos e oportunistas, as comunidades terapêuticas têm sido responsáveis pela recuperação de inúmeros dependentes. Os governos não se dão conta de que o trabalho dessas instituições repercute diretamente na qualidade da segurança pública. Elas rompem o círculo vicioso das drogas e criam o círculo virtuoso da recuperação e da ressocialização.
Fonte: Carlos Alberto Di Franco
9 comments
Thiago, salvo engano, parece que nao há o procedimento de compartilhar matérias publicadas pela FEAE atraves do whatsApp, o que facilitaria para os grupos. Caso haja engano, antecipadamente, me desculpe. Roberto Cavalcanti DF
Obrigado pela sugestão, Roberto. Logo vamos inserir essa possibilidade.
Sou casada tenho 34 anos tenho um emprego, tenho uma família linda, um esposo maravilhoso um exemplo de pai de de esposo, mas eu estou atravessando um momento muito difícil estou envolvida com drogas no caso cocaína mas ninguém da minha família sabe estou perdida não sei o que fazer me ajudem por favor
Oi Daiane! Qual a sua cidade? Recomendo que vá a um grupo de Amor-Exigente imediatamente. Você precisa buscar ajuda! Sozinha é difícil. Estamos aqui para te ajudar.
THIAGO EU SEI QUE PRECISO DE AJUDA MAS NÃO QUERO QUE A MINHA FAMILIA SAIBA QUE ESTOU PASSANDO POR ISSSO POIS TENHO MUITO MEDO DE PERDER AS PESSOAS QUE AMO
Daiane, o sigilo faz parte dos princípios éticos do Amor-Exigente. Em nosso grupo você terá acolhimento, empatia e sigilo acima de tudo.
eu sou de porto alegre rs vcs fazem esse trabalho aqui?
Sim, temos grupos em Porto Alegre. Acesse o menu LocalizAE no topo do site e busque os mais próximos. Em Maio, também teremos um Seminário aí na cidade.
Boa tarde ,estou com meu filho que é dependente químico , está sem forças prá lutar e cada dia se afunda mais nas drogas ,estou desesperada pois até a família virou as costas prá nós , não tenho apoio de ninguém ,por favor ,me ajudem