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Post: Após 24 anos vendo filho usar drogas, Dirce percebeu como amor de mãe é exigente

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Todos os dias, nas reuniões do Amor-Exigente, grupo de apoio às famílias que vivem o drama de ter alguém consumido pela dependência química, as mulheres são maioria. Ou elas estão ali pelos filhos, ou pelos pais dos filhos, demonstrando força sobrenatural depois de todo mundo já ter jogado a toalha, em uma batalha longa, de altos e baixos.

Um dia só de homenagem não combina com dedicação desse tipo de mãe. Mas para elas 24 horas de tranquilidade são dádiva quando a dependência já adoeceu toda a família. A  aposentada Dirce Joana Souza, de 69 anos, conheceu essa rotina ainda na adolescência do filho. O menino bebia, depois passou para a maconha e por último o crack. Foram 24 anos assim.

Há 3, quando o filho chegou no pior estágio que podia imaginar, ela resolveu pedir ajuda. Esgotada de tantas tentativas, internações e pedidos de mudança, Dirce foi ao limite e buscou apoio primeiro. “Precisei ir até o Amor-Exigente encontrar ajuda, foi quando eu descobri que para ajudar meu filho, eu precisava ser ajudada”, conta.

A gente não vê quando a droga entra na nossa vida, a gente só vê quando está no estrago.

Foram alguns meses de apoio e metas dentro das reuniões para Dirce e o filho darem a volta por cima. “Primeiro, eu não aceitava. Não entendia que isso tudo era doença, que precisava ser tratada para o resto da vida. Depois de entender isso, eu tive que aprender como me livrar da culpa”.

“Cada mãe tem um filho que merece”, “você não soube criar direito” e “a culpa é sua”. Frases que se tornaram comuns na vida de Dirce que, diariamente, lutava sozinha para ver o filho longe das drogas. “Quem não ama, crítica, mas quem ama, ajuda e não rotula. Foi com o tempo que eu aprendi que essas frases não tinham nada a ver comigo. Não era culpa minha o vício dele nas drogas”.

Um começo difícil para quem passou uma vida fazendo de tudo para ver o filho feliz. “A gente não vê quando a droga entra na nossa vida, a gente só vê quando está no estrago. E essa dó maldita que as mães têm, é o que faz tudo ficar pior. Os filhos usam essa droga e nós temos uma droga de vida”.

Foi preciso se livrar da culpa e entender a si, para fazer mudança. Dirce precisou dizer não pela primeira vez ao filho para voltar a viver. “Não aguentava mais, eram dias sem dormir e comer. Vivia com a paciência curta e esqueci que tinha outros dois filhos”.

Hoje consigo dormir, porque meu coração está em paz.

Foi sentindo a mudança no comportamento da mãe, que a ficha do filho caiu. “Passei a cuidar de mim, disse não para ele dentro de casa. E se quisesse continuar nessa vida, que ele podia ir embora”.

Foi o momento mais difícil para Dirce. “Ver um filho aí fora, é um desespero. Só quem vive isso sabe. Você ouve um barulho de madrugada e sente vontade de de ir pra rua, achando que vai encontrar seu filho jogado”.

Ao mesmo tempo, o sentimento de impotência, deixava a mãe sem saber como lidar com o drama do filho na pior situação. “Ele dormia durante o dia e a noite não havia limite para as drogas, a sujeira e as brigas”. Foi diante de uma ameaça de morte, que o filho chegou em casa disposto a buscar ajuda. “Naquele momento o pedido partiu dele, foi ele quem viu que precisava ser ajudado, não era um vontade exclusivamente minha”.

Ele se tratou em um clínica de recuperação e hoje, com 37 anos, trabalha e frequenta semanalmente o NA (Narcóticos Anônimos). “Ele sabe que é tratamento para a vida toda, não tem cura. Está há três anos limpo, sem uma gota de álcool e drogas na boca”.

Uma risada gostosa marca a entrevista, em seguida as lágrimas, quando Dirce percebe que presenciou a própria vitória. “Hoje consigo dormir porque meu coração está em paz. E porque eu não desisti, eu lutei. Lutei por ele, mas também lutei por mim. Isso que toda mãe deveria fazer. Lutar por ela, porque no fundo a gente não tem culpa. Conseguimos ajudar sem se afundar junto com o filho”.

Para comemorar mais um dia de vitória, Dirce vai passar  O Dia das Mães na chácara onde o filho se recuperou das drogas. “Ele quis fazer um almoço para os meninos que estão internados e vão estar com as mães. Eu vou junto, porque lá é o meu lugar, depois de tanta luta, tudo que eu mais quero é mostrar para outras mães, que a gente consegue e os nossos filhos também”.

Histórias parecidas com a de Dirce passam diariamente pelos grupos do Amor Exigente, em Campo Grande. Embora não exista números  de quantas pessoas se recuperaram das drogas, o grupo coleciona inúmeros casos de famílias que deram a volta por cima e hoje vivem longe das drogas. Quem tiver interesse em ser voluntário ou participar das reuniões, pode entrar em contato com o grupo pelo Facebook e conferir as unidades.

Fonte: Campo Grande News

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