Alcoolismo juvenil: por que nossos jovens precisam se embriagar?

by Thiago Biancheti

Desculpe falar assim “na lata”, mas álcool é droga, sinto muito. Pior que isso, o álcool é uma droga lícita, aceita, louvada e, muitas vezes, seu uso é incentivado pelos próprios familiares. Para ficar ainda pior, custa extremamente barato. É possível comprar uma garrafa de cachaça em qualquer esquina do Brasil por menos de dez reais.

Beber álcool é um hábito visto com olhos muito pouco críticos, como se fosse algo inofensivo. Aliás, a grande maioria das pessoas acredita que diversão e vida social não são coisas possíveis sem um copinho de birita na mão. Bem… antes fosse apenas um copinho.

As bebidas alcoólicas constituem as drogas legalizadas mais consumidas em nosso país. Brasileiro parece ter absoluta certeza de que festa sem algumas doses, não é festa. Bebe-se antes, durante e depois das refeições, bebe-se para comemorar, bebe-se para relaxar, bebe-se para esquecer. Acontece que essa insanidade coletiva não fica apenas na conta dos adultos; nossos jovens estão adquirindo o hábito de beber cada vez mais precocemente.

Mas afinal, o que pode levar um jovem, em plena melhor fase da vida, com um corpo cheio de energia vital e com incontáveis possibilidades de escolha para passar o tempo e aproveitar a vida, a achar que é uma boa ideia entorpecer o cérebro e matar alguns muitos neurônios afogados em porres de vodka, cerveja e tequila?!

O jovem bebe porque tem acesso, porque tem exemplo e porque desenvolve a crença errônea de que ficar embriagado vai resolver seus problemas de autoestima, timidez e falta de desenvoltura social. Quando está sozinho e pode refletir, o jovem até sabe que o álcool é prejudicial e que aquele efeito entorpecente não há de ser benéfico. Mas, quando está cercado pela turma, a teoria morre afogada no primeiro “shot”.

Por lei, menores de idade não podem comprar bebida alcoólica no Brasil. No entanto, a coisa mais fácil do mundo é sair de um supermercado de ambiente feliz e familiar com garrafas e latinhas, cuja quantidade seria suficiente para deixar de pilequinho a vizinhança inteira. E, se a lei não é cumprida, quem vai se responsabilizar pelo consumo de álcool dos menores? A família, que anda cada vez mais omissa? A escola, que finge que não vê o problema? Os órgãos de saúde, que andam mais trôpegos que um bebum em fim de balada?

Basta dar uma chegadinha em qualquer festinha, barzinho ou balada frequentada por jovens com idade entre 13 e 17 anos para observar a quantidade de meninos e meninas embriagados, andando pelo meio dos carros, completamente desorientados, agarrados a litros de bebida, passados de mão em mão e tragados com desenvoltura, diretamente no gargalo.

Dados inéditos de uma pesquisa sobre o uso de drogas entre os alunos de escolas particulares da cidade de São Paulo revelam que um em cada três estudantes do ensino médio se embriagou pelo menos uma vez no mês anterior ao levantamento.

Uma pesquisa realizada pelo Cebrid (Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) da Unifesp, ouviu mais de cinco mil alunos do ensino fundamental e médio de trinta e sete escolas particulares da cidade de São Paulo; os dados são alarmantes. Entre os estudantes do ensino fundamental (8º e 9º anos), o total dos que se embriagaram ao menos uma vez no último mês é de 24%. Os jovens ouvidos têm entre 13 e 15 anos.

O pileque, ao contrário do que muita gente quer acreditar, não é uma brincadeira inocente. Sua prática, em verdade, é uma consequência imediata do conceito absurdo que beber é uma prática social. Crianças brasileiras crescem assistindo seus familiares entornando copos de bebida nos mais variados eventos.

É por isso que nossos meninos e meninas chegam à adolescência acreditando que ter um copo de álcool na mão é símbolo de status e de maturidade. Acontece que essa crença distorcida pode vir acompanhada de tragédias anunciadas: jovens morrem atropelados por estarem embriagados, jovens atropelam pessoas inocentes por estarem embriagados, crimes de estupro e abusos crescem assustadoramente em ambientes regados a bebida alcoólica.

O uso costumeiro de álcool desencadeia um processo inflamatório no cérebro, alterando as reações químicas e, consequentemente, as ações provenientes de sinapses neuronais. Jovens habituados a beber têm prejuízos de memória, concentração, atenção e podem desenvolver distúrbios de aprendizagem e transtornos de humor.

E é por isso que nós, os adultos, precisamos acordar e entender que é nossa responsabilidade prevenir e proteger nossas crianças dos perigos iminentes que o uso dessa droga lícita pode oferecer. E acontece que campanha nenhuma vai funcionar enquanto as mídias sociais continuarem inundadas de publicidade que associa o consumo de bebida à prazer, poder e liberdade. Nada será suficiente para alertar essa garotada, enquanto ficar alcoolizado for uma prática recorrente em festas familiares.

Fonte: Conti Outra

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2 comments

Lucas 31 de outubro de 2017 - 22:35

Olá amigos, se vocês estiverem lendo isso, deveriam saber o quanto essas palavras são importantes, e o quanto seria fundamental que os jovens brasileiros ouvissem constantemente sobre o uso do álcool na adolescência. Parece mesmo algo muito difícil de ser enfrentado, mesmo porque como falar de exemplo se quase todo mundo bebe? Eu mesmo deixei de beber no ano de 2013, já com o firme propósito de que meus filhos nunca me vejam com um copo na mão. Mas aos 40 anos, já não foi a mesma coisa, pois assim como todos os meus amigos de infância, começamos aos 14 anos, sem qualquer barreira. Quando decidi parar, o estrago já estava feito. Mas vejam, posso garantir que enquanto bebia vivia doente, doenças pulmonares, inflamações constantes na garganta, enxaquecas semanais, e atualmente, simplesmente não tenho absolutamente nada. Vejam que, por outro lado, me sinto um estranho, pois na sociedade, quase não há quem não beba, de forma que há um verdadeiro susto quando digo que não bebo absolutamente nada. Quanto tempo eu perdi… Espero que isso ajude alguém a ver que há um mundo bem melhor desse lado. Sou advogado em Campinas, tenho uma família linda, e uma vida toda pela frente. E livre desse droga.

Ronaldo Rissetto 1 de novembro de 2017 - 09:35

Caro amigo
Gostaria de saber se posso colocar sua partilha no facebook oficial para servir de incentivo e exemplo para os que nao estao conseguindo.
Caso positivo envie msg com autorização e foto
Abraços e parabens por sua vitoria continua
Ronaldo

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