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Post: Reflexões sobre Culpa

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Por Raimunda Estevam Barros, Voluntária/Coord. Regional Piauí, na REVISTAE – edição Maio/2016.

“ Um homem pode falhar diversas vezes, mas ele só será um fracasso se começar a culpar alguém por suas falhas “ –
John Burroughs (1873 – 1921).

Analisar o fenômeno da culpa é interessante e complexo. Afinal, há alguns tipos diferentes de culpa. Há culpa atribuída aos outros e há a culpa que nós mesmos assumimos. Atribuir a culpa de algo a alguém ou a alguma coisa é tão bom! Afinal, se atribuirmos a culpa a alguém, automaticamente, em nosso íntimo, nos tornamos inocentes de qualquer falha “alguém me fez errar, alguém me levou a esta situação, alguém…”.

Em alguns casos, estamos nos vingando de alguém! Culpar o outro é um mecanismo muito comum em pessoas com problemas de adicção (vício): alcoólicos, drogadictos etc. Neste caso, culpar o próximo funciona como forma de negação: a negação da própria responsabilidade. Alguns exemplos: “ Se minha mulher me tratasse melhor, eu não beberia tanto”. “A maconha não me prejudica”. Acontece que o professor é super-reacionário e, por isso, me deu notas baixas”. No entanto, há outro tipo de culpa que deve ser analisado: é o sentir–se culpado: É o fato de assumir a responsabilidade de fatos ou eventos que não causamos ou mesmo, tendo causado, amplificar nossas responsabilidades além do que deveria ser razoável.

Há, no Brasil, uma excelente organização de ajuda mútua, chamada Amor–Exigente, que está presente em praticamente todo o território nacional. Os voluntários trabalham como formiguinhas que se reúnem semanalmente em cerca de 1000 locais diferentes para capacitar pais, irmãos, cônjuges e filhos de pessoas que enveredam pelo caminho do álcool ou das drogas e vão lentamente destruindo suas famílias. O Amor–Exigente dá um “pacote” de ferramentas para os familiares enfrentarem o problema de forma organizada a fim de evitar a destruição familiar e, se possível, recuperar o adicto.

Livrar-se da culpa e assumir responsabilidades, ao mesmo tempo, parar de culpar os outros. Aceitar estas condutas dará uma nova perspectiva ao nosso papel em casa, no trabalho, na comunidade. Ao livrarmo-nos da culpa, passaremos a nos aceitar e a ver o que precisamos corrigir em nós mesmos! O truque é “desligar o gravador” que fica repetindo, em nossas mentes, nossos erros passados e repetindo corajosos, capazes. Estas vozes estão nos roubando o amor próprio, à vontade e a capacidade de agir!

Ao livrarmo-nos da culpa, passamos a perceber que não somos incapazes e nem somos menos que os demais. Se há problemas em nosso lar, eles ocorreram por erros nossos ou de outros, mas geralmente, de forma não intencional. Devemos consertar. E, sem culpa, temos a capacidade para iniciar este conserto. No caminho provavelmente precisaremos de ajuda, e ela existe! Nós tentamos isso no passado e falhamos; pois bem, vamos tentar de novo. Vamos nos apoiar em outros que tentaram, evitando seus erros e copiando seus acertos. Deixaremos de nos comparar a outros, pois sempre haverá quem se deu melhor que nós. Saber pedir ajuda é um grande passo! Analisar as situações que estão nos levando a sentimentos de culpa, que massacram, também é importante e sair delas, é ainda mais importante. Ao olharmos a casa do vizinho, tendemos a sentir que “falhamos”. Porém nossas diferenças frente aos demais não nos fazem inferiores, apenas nos fazem diferentes.

Talvez tenhamos que mudar a receita da nossa culpa, que é o instrumento mais forte a nos amarrar na falta de ação.

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